Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
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Estojo de amputação setecentista

Estojo de amputação setecentista
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Estojo de madeira forrado a pele de peixe e flanela (7x50x26cm).
Pertenceu ao cirurgião José Marcelino Peres Pinto.
Serra de amputação com duas lâminas: madeira e aço; 1,2x45x13,5cm
Uma pinça hemostática: aço; 1x14,5x6,2cm
Duas facas de amputação: madeira e aço; 3x36x4cm
Uma agulha de sedenho: aço; 1x15x1,3cm
Uma chave: aço; 1x9,2x2cm.
Restauro efectuado por D. Benilde Letra e D. Maria Amélia Martins.
A identificação de um estojo de amputação pressupõe uma prévia identificação dos instrumentos cirúrgicos que contém, situação viável após a visualização sucessiva de outros exemplares museológicos ou de gravuras patentes em livros ou catálogos de instrumentos cirúrgicos. As informações relevantes para uma definição cronológica advêm do conhecimento histórico de se tratar de uma cirurgia muito frequente em setecentos, da forma, da marca e dos materiais constituintes, tais como a madeira, o marfim dos cabos e as imperfeições de fabrico do aço utilizado dadas as limitações tecnológicas da época. Esta característica explica a necessidade de se produzirem instrumentos cirúrgicos mais robustos, dada a fragilidade do aço disponível de que são exemplo a serra e as facas de amputação deste estojo. Eram paralelamente menos ergonómicos. Faz-se a catalogação do estojo - R.J. nº 242 - e de cada instrumento referindo sempre que presente a marca do fabricante: - Estojo de madeira forrado a pele de peixe e flanela, 7x50x26cm; Serra de amputação com duas lâminas, madeira e aço, 1,2x45x13,5cm; Pinça hemostática, aço, 1x14,5x6,2cm; Duas facas de amputação, madeira e aço, 3x36x4cm; Agulha de sedenho, aço, 1x15x1,3cm; Chave, aço, 1x9,2x2cm.

Num período anterior à descoberta da Anestesia exigia-se que o cirurgião executasse uma amputação em segundos, função a que o instrumento cirúrgico tinha de corresponder. A forma curvilínea das facas de amputação visava abreviar e simplificar o trabalho operatório. De seguida, verificamos que o estojo está incompleto, situação frequentemente observada e muitas vezes explicada pela deficiente resistência à corrosão e degradação temporal de certos materiais utilizados. Os espaços vazios sugerem formas e, pela experiência acima assinalada, somos levados a pensar que os instrumentos possivelmente seriam um torniquete (talvez de madeira), uma faca de amputação (talvez interóssea) e uma agulha. Embora os métodos físicos de hemóstase apontados - a pinça hemostática e o provável torniquete - fossem conhecidos, ainda não era frequente a sua vulgarização, facto que valoriza este estojo. Uma vez mais a observação incessante de instrumentos e reproduções iconográficas permitiu a identificação da pinça hemostática segundo modelo de L. Heister (1683-1758), um achado que reforça o seu valor museológico. O sedenho compreendia uma pequena cirurgia em que através da pele se fazia passar e de seguida emergir um cordão, de natureza diversa, de forma a salvaguardar o equilíbrio humoral. A região cervical posterior era a mais frequentemente escolhida. Neste estojo deparamos com uma agulha de sedenho, instrumento frequentemente encontrado com instrumentos de amputação. A decoração do estojo leva a excluir uma origem inglesa, francesa ou alemã. Poderá ter uma proveniência ibérica ou italiana. Constitui um enigma. A marca do fabricante, se existisse, seria esclarecedora da sede e data de manufactura embora existam características que, articuladas em conjunto, são fortemente esclarecedoras. O estudo de instrumentos cirúrgicos cria um ciclo contínuo de pesquisa nacional e de intercâmbio internacional.
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