Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
Imagem ilustrativa
Sala Carlos Lopes
Texto maiorTexto normalTexto mais pequeno
O espéculo vaginal

Espéculo vaginal trivalve - Séc. XVIII
Ver imagem maior
Espéculo vaginal trivalve - Séc. XIX
Ver imagem maior
(Fig. da esquerda)
Espéculo vaginal trivalve: Madeira e aço; séc. XVIII; 12x28x9,2cm

(Fig. da direita)
Espéculo vaginal trivalve: Prata; c.1843-61; 9x16x6,5cm
"Espéculo" é uma palavra latina que significa espelho. O espéculo visa dilatar a entrada de certas cavidades de forma a facilitar a visualização directa ou reflectida do estado de um orgão.

Até 1800 a cura das doenças fundamentava-se na natureza dos sintomas e sinais identificados. Não havia a necessidade de instrumentos complementares de diagnóstico. O espéculo era uma excepção. A sua utilização remonta à Medicina Grega e Romana e desde esse tempo a sua forma evidenciou uma alteração constante visando salvaguardar o bem-estar da mulher e uma melhor visualização. A ideia científica do espéculo vaginal cilíndrico era antiga mas concretizou-se com Joseph Recámier (1774-1852), em 1801. A esta forma introduziram-se várias e sucessivas alterações bem como diversos foram os materiais empregues (metal, marfim, vidro, porcelana, madeira, borracha). As formas valvulares da preferência dos gregos e romanos possuíam um princípio comum subjacente a mecanismos díspares. Espéculos de duas, três ou mais valvas manufacturados em diferentes épocas visaram uma melhor exposição e a menor ofensa corporal.

O presente espéculo trivalve quanto à forma pouco se diferencia dos espéculos encontrados em Pompeia e Herculano (97 d.C.). A diferença existe nos materiais utilizados no fabrico: a madeira e o aço em vez do bronze. Esta composição seria de esperar num período anterior à introdução da antissépsia/assépsia.

A bibliografia cirúrgica portuguesa cita os espéculos vaginal e o uterino embora sejam escassas as informações relativas à sua forma e materiais, situação que não acontece com os outros tipos de espéculo.

O espéculo de prata que seleccionámos apresenta três marcas. Numa as iniciais constituem a marca de um ourives do Porto não identificado, conhecida com os contrastes P-36 e P-37 (ALMEIDA. Fernando Moitinho - Inventário de Marcas de Pratas portuguesas e brasileiras. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1993) do ensaiador Luís António Rodrigues de Araújo entre 1843 e 1853. A marca de onze dinheiros (0,917) atribui-se ao mesmo ensaiador (associa-se a P-37) que a usou entre 1843 e 1861.

Neste exemplo se destaca a importância da investigação das marcas nos instrumentos cirúrgicos para uma datação fiel do tempo de manufactura. A preferência pela prata na manufactura deste instrumento explica-se pela maior resistência deste material à corrosão pelos líquidos orgânicos e talvez, pelo gosto requintado do seu possuidor.
Ir para o topo
Museu de História da Medicina Maximiano Lemos
© 2005-2006 FMUP    |    Ficha técnica