Estojo de litotrícia. Contém um litotritor e um aspirador de cálculos de Thompson: Aço, latão, vidro e borracha; séc. XIX; S.Maw, Son & Thompson, London

A litotrícia consiste numa fragmentação dos cálculos vesicais de forma a garantir a sua exteriorização através da uretra. Franz von Gruithuizen (1774-1852) foi o autor do princípio científico (1813); Leroy d' Étiolles inventou vários modelos de instrumentos destinados à sua aplicação no humano e Jean Civiale (1792-1867) faz a primeira intervenção humana com êxito. Os instrumentos manufacturados eram lineares ou curvos, animados de mecanismo diferentes.

A litotrícia constituíu o primeiro método endoscópio com indicação terapêutica.

A dissertação inaugural defendida pelo aluno José Ignácio Martins Lavado da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa "Considerações sobre as vantagens e inconvenientes da aplicação da talha e da Lithotricia" (1868) apresenta os métodos de litotomia e da litotrícia na cura da litíase vesical, a morbimortalidade a que se associavam e as estatísticas internacionais e nacionais então existentes. Em Portugal existia uma clara preferência pela operação de litotomia lateralizada segundo Fr. Cosme (1748). Utilizava-se o litótomo oculto modificado por Charrière. Contudo, na Escola Médica de Lisboa algumas cirurgias de litotomia lateralizada efectuaram-se segundo Hawkins por Joaquim José Pereira, Ribeiro Vianna e Joaquim Theotonio da Silva. Em 1800, António de Almeida diz ter praticado em Londres dezanove destas cirurgias por este método sem quaisquer complicações. Na litotrícia o instrumento de Hourteloup modificado por Charrière era do agrado dos cirurgiões portugueses.

Segundo esta dissertação os acidentes genito-urinários (Dor, Cistite, Prostatite, laceração vesical, segmentação do instrumento litotritor na bexiga, encravamento do cálculo) eram mais frequentes na litotrícia que na litotomia embora nesta houvesse um claro predomínio de complicações não relacionadas com este sistema (Hemorragia, Lacerações do recto e peritoneu, Flebite, Peritonite, Fístulas).

A prática da litotomia era mais frequente que a da litotrícia em Portugal.

Porém, a tese inaugural de António Candido Neves "Breves considerações sobre a Lithotricia: Methodo de Bigelow" (1881), apresentada à Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, defendia as vantagens da litotrícia por este método sobre as anteriores. Nesta prática a segmentação dos cálculos seguia-se da sua aspiração artificial. Cornay de Rochefort introduziu a aspiração lítica recorrendo a um cateter truncado (1843); Sir Philip Crampton inventa um aspirador (1846) aperfeiçoado mais tarde por Clover, de Londres. Coube a Bigelow a criação de um novo aspirador munido de um cateter de grosso calibre de resultados clínicos satisfatórios. António Maria Barbosa e Curry Cabral da Escola de Lisboa praticaram com êxito a litotrícia segundo o método de Bigelow.