Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
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Sala João de Meira
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Os instrumentos de Amigdalectomia e Uvulectomia

Amigdalótomo de Mathieu
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Amigdalótomo tipo Mandeville
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Uvulótomo
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(Fig. da esquerda)
Amigdalótomo de Mathieu: Aço e prata alemã; séc. XIX; 5,5x25,6x2,5cm; Galante, Paris.

(Fig. central)
Amigdalótomo tipo Mandeville: Madeira, prata alemã e aço; séc. XIX; 14,5x24,5x2,2cm; Galante, Paris.

(Fig. da direita)
Uvulótomo: Prata e aço; séc. XIX; 0,3x15,5x3cm.
A amigdalectomia encontra-se descrita por Susruta (séc. V a.C.), cuja técnica compreendia uma dissecção realizada com um escalpelo curvo e uma pinça. Celso (c. 25 a.C. - 50 d.C.) descreve a amigdalectomia de forma mais pormenorizada e próxima da Cirurgia actual. Procedia a um descolamento digital, fixava com um gancho e seccionava com um escalpelo. Esta técnica era do agrado de Paulo de Egina (625-690), representante da Escola Bizantina. Albucasis (936-1013) utilizava um abaixador lingual, uma tesoura de extremidades rombas e um cautério. Fabricio ab Aquapendente (1510-1590) empregava a cauterização e a ligadura. Até à primeira metade do séc. XVIII (inclusivé) os cirurgiões portugueses utilizavam um abre-boca ou um depressor lingual para uma maior exposição e procediam à incisão das amígdalas com uma lanceta. Uma diversidade de terapêuticas pré e pós-operatórias eram recomendadas bem como as sangrias e as ventosas secas (António Ferreira, 1683, pg. 91-93; Feliciano de Almeida, 1715, pg. 156-158). Nos padecimentos da úvula esses autores nacionais aconselhavam as ventosas aplicadas na comissura sagital e a sua tracção e a do cabelo dessa zona, várias vezes ao dia. Dizia-se ser esta prática responsável pelo levantamento benéfico da úvula (António Ferreira, 1683, pg, 156). António de Almeida, no tomo III, do Tratado (António de Almeida, "Tratado Completo de Medicina Operatória", 1825, vol. III, pg. 4 nota 1) faz a descrição da amigdalectomia por dissecção pelo que evidencia uma completa modernidade. Este método cairia em desuso com a invenção dos amigdalótomos.

"(...) Para se praticar a extirpação deve o operador escolher o meio; o qual pode ser a ligadura, como nos polypos, se a base he mais delgada do que o corpo, ou hum escalpello, se não tem lugar a laqueação. Para se usar do escalpello, cumpre situar o enfermo sentado defronte de huma janela, abrir-lhe os queixos por meio de uma cunha, ou speculo, e pegar com o tenaculo no corpo, em quanto com o escalpelo o descarna, e separa das outras partes. O escalpello deve ter a ponta romba, e o corte da extensão de doze, ou quatorze linhas, para não ferir as partes vizinhas. Alguns práticos servem-se da tisoira com pontas rombas: porém este instrumento não he tão bom como o escalpello. Deve notar-se que, achando-se ambas as amygdalas na necessidade de se extirparem, só extirparemos a segunda depois de curada a chaga da primeira". (António de Almeida, Tratado Completo de Medicina Operatória, 1825, vol. III, pg. 4 nota 1).

No século XVII Bartholin (1616-1680) concebe o uvulótomo. Baseado neste princípio, Benjamin Bell adapta-o à amigdalectomia. Com Syng Physick (1768-1838) surge o primeiro amigdalótomo, modificado sucessivamente por outros autores. A guilhotina tonsilar concebida por Slüder (1865-1928) procedia à preensão e luxação das amígdalas num plano extra-capsular. Os amigdalótomos seleccionados obedecem a este princípio. Uma verdadeira guilhotina está subjacente ao funcionamento do uvulótomo apresentado. Os dois amigdalótomos diferenciam-se no diâmetro do anel de preensão, uma vez que se destinam a grupos etários diferentes, e na forma geral do instrumento.
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