Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
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Sala João de Meira
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As pinças hemostáticas

Pinça hemostática
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Pinça hemostática
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Pinça hemostática
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(Fig. da esquerda)
Pinça hemostática: Aço; séc.XIX; 2,1x14,2x5cm; Galante

(Fig. central)
Pinça hemostática: Aço; séc. XIX; 4,2x12,2x5cm; Galante

(Fig. da direita)
Pinça hemostática: Aço; séc. XIX; 2x13,3x5,7cm; Galante
O momento do uso das pinças em geral para deter uma hemorragia remonta ao tempo do aparecimento das mesmas. Contudo, só acidentalmente os cirurgiões as incluíram na prática, enquanto recorríam a outros métodos.Foi para as hemorragias arteriais que, em primeiro lugar, se pensou nas vantagens deste género de instrumento cirúrgico.O processo recebeu múltiplas denominações. Verneuil, primeiro a apresentar o método à Sociedade de Cirurgia, designou-o de "forcipressure" (1875); Péan preferia "pincement" (1874). Parece atribuir-se a Koeberlé, o nome "pinces hemostatiques" (1868).

Em fins do século XVIII o descrédito na ligadura multiplicara as investigações relativas à criação de uma pinça que mais se ajustasse às exigências cirúrgicas. Inúmeras foram as descrições de instrumentos, geradoras de outras tantas reivindicações de prioridade. Começavam os cirurgiões a aperceber-se que a pinça era um auxiliar precioso nas operações, sendo susceptível de suplantar a insuficiência de outros agentes de hemóstase.

Os precursores mais próximos da pinça hemostática aparecem no fim do século XVIII e na sua maioria a sua existência foi efémera. Em 1787, Desault (1744-1795) recorria a dois pequenos fragmentos de madeira que colocava sob e sobre a lesão vascular, fixando-as com um fio. Mais tarde, Percy usava lâminas de chumbo. Demoraria alguns vinte anos, após as tentativas malogradas de Desault e Percy, a aparecerem os primeiros compressores arteriais em forma de pinça. Duret na sua tese inaugural "Sur la compression immédiate des artéres dans l'operation de l'aneurisme" (1810) descreve a pinça aneurismal de seu próprio nome. Em 1811 surge o compressor arterial de Assalini (1759-1849), único que verdadeiramente se expandiu. Ristelhueber apresenta, em 1817, à Sociedade de Medicina de Estrasburgo, instrumentos destinados à hemóstase, entre os quais se contaram o compressor por si idealizado e o de Sir Henry. Contudo, como afirmou Pierre Augustin Bérard (1785-1825), estes instrumentos irritavam violentamente as feridas, ulceravam os vasos e impediam uma cicatrização completa. Algum tempo levaria até ao fabrico de modelos novos: Estrange, Loffler, Deschamps, Ayrer. Os dois últimos, pela forma e construção, aproximavam-se mais dos torniquetes.

O tipo de vaso sanguíneo e de intervenção cirúrgica foram os agentes motrizes de novas invenções. No primeiro caso refira-se a pinça de Dieffenbach para as hemorragias venosas; no segundo, o torniquete de Foulquier, a pinça de Galiay, a de Hesselbach, a de Dupuytren e a de Henneman, respectivamente para as hemorragias na trepanação craniana, da palma da mão, da epigástrica, da litotomia e na terapêutica com sanguessugas.

Considerando o método hemostático em geral, independentemente da natureza do vaso sanguíneo ou da cirurgia efectuada, este processo associou-se a três situações distintas: no decurso de uma intervenção determinava uma hemóstase temporária: quando condicionava a permanência das pinças após a cirurgia até à obliteração completa do vaso era uma hemóstase definitiva; se dirigida a tecidos de pequena espessura de forma a obstruir o fluxo de sangue durante o acto operatório consistia numa hemóstase preventiva.

Desde 1824 a hemóstase temporária generalizou-se a todas as intervenções cirúrgicas. Os instrumentos usados nem sempre apresentavam a solidez e simplicidade requerida, mas todos respondiam à mesma necessidade. Para este efeito é de referir as pinças de Hanneman e Graefe, as serras-finas de Vidal de Cassis (1803-1856), as serras fortes de Dieffenbach (1792-1860) e Sedillot, segundo princípio de Charrière, e, as de parafuso (Galiay e Hesselbach) e de anel.

A hemóstase definitiva foi abordada por Nunneley de Leeds (1867) ao afirmar a necessidade de se descobrir uma pinça que reunisse as seguintes qualidades: fina, de forma a não impedir a reunião: forte, para fechar hermeticamente os vasos sem originar ulceração ou gangrena das paredes e para permanecer fixa aos locais onde havia sido colocada e, finalmente leve. Contudo, as suas pinças não eram suficientes para ocluir os grandes vasos e os Aneurismas. Os instrumentos construídos em Inglaterra entre 1867-72 tinham subjacentes os princípios de Nunnely (exemplo de Wolef, Taylor e Richardson).

A pinça hemostática difere da pinça vulgar porque se mantém fechada por um artifício especial. Vários foram os mecanismos idealizados: em anel, com ranhura, vários anéis e ranhuras, braços cruzados, parafuso, entre outros.

A Joseph Frederic Charrière (1803-1876), prestigiado fabricante de instrumentos cirúrgicos, se ficou a dever a introdução de alterações que beneficiaram o exercício cirúrgico porque uma melhor hemóstase se obtinha. Em 1858, Charrière idealizou uma pinça de pressão contínua de anel baseada noutra existente no arsenal anatómico por ele produzido. Paralelamente Koeberlé, em 1865, orienta um fabricante de nome Elser a produzir uma pinça semelhante, e em 1868 Guéride, outro fabricante de instrumentos, constrói segundo orientação de Péan, uma pinça do género das anteriores. Esta diferia na articulação em cremalheira transversal. Ulteriormente, Péan introduziu formas diversas na extremidade anterior da pinça. Koeberlé e Péan na reclamação da prioridade do invento mantiveram os ânimos exaltados. De Charrière foi a criação da articulação entre os dois ramos da pinça que permitia a sua total separação após uma abertura de 90º. O princípio subjacente à pinça de Dieffenbach ou bulldog - ramos cruzados - foi apresentado pela primeira vez por Charrière num outro tipo de instrumento (1840). Em 1874, Spencer Wells introduziu uma pinça que viria a substituir os bulldog e a pinça de Robert Liston. Collin também introduziu alterações na articulação.

Estavam criadas as bases das actuais pinças hemostáticas, método de fácil aplicação, seguro e que minimizava a perda hemática e o tempo operatório.

Relativamente ao material escolhido para o fabrico dos compressores vasculares e pinças hemostáticas aluda-se à escolha do aço niquelado ou cromado definitivamente desde 1884/93, após o triunfo dos conceitos de Lister e Pasteur (antissépsia/assépsia) e o aço inoxidável a partir de 1925 - composição mais resistentes aos processos de desinfecção e esterilização.
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