Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
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Sala João de Meira
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Os instrumentos de sutura digestiva

Até ao século XVIII encontramos referências bibliográficas a quatro métodos de sutura aplicados à estrutura tubular dos orgãos digestivos: a sutura simples de Celso, a sutura sobre uma endoprótese vegetal ou animal dos mestres salernitanos, a adesão do intestino lesado à parede abdominal por Palfijn (1650-1730), De la Peyronie (séc. XVIII), Le Dran (1685-1770) e Bell (1749-1806) e a invaginação na transecção segundo Ramdohr (séc. XVIII).

Destaque-se entre os métodos de enterorrafia a utilização pelos povos pré-colombianos e indús da preensão dos topos intestinais com as mandíbulas de formigas gigantes.

As endopróteses mais frequentemente utilizadas foram o canudo de sabugo (Rogério de Parma), o cartão envernizado (Sabatier - 1732-1811), o intestino de carneiro (Guilherme de Salicet - séc. XIII), a traqueia de ganso (Escola de Salerno) e a vela de sebo (B.Bell). Em 1826 coube a Antoine Lembert (1802-51) a prática de uma sutura invaginante com a aproximação das camadas serosas que estaria na base da cirurgia moderna gastro-intestinal. A cirurgia iria ser bem sucedida dez anos mais tarde com Dieffenbach (1792-1847). No mesmo ano, Henroz demonstra as vantagens da sutura em eversão. Só, em 1887, com Halsted (1852-1922), se estabeleceu o papel da submucosa na cicatrização das lesões digestivas.

Os insucessos da sutura digestiva decorriam da inexistência de uma metodologia específica que compreendia a técnica cirúrgica, o instrumental adoptado, o conhecimento da natureza do processo de cicatrização e da infecção e da qualidade biológica do material de sutura.

Na literatura portuguesa encontramos materiais de natureza orgânica (íntima de intestino de carneiro, tendões, crina, cabelo, seda, algodão, linho) e metais na composição dos fios de sutura. Depois das experiências de Lister estes materiais foram preparados segundo o método antisséptico.

Paralelamente à sutura digestiva manual houve diversas tentativas de introduzir a sutura automática digestiva. O primeiro aparelho de sutura automática a possibilitar a realização de anastomoses digestivas circulares de forma mais eficaz e rápida que a sutura manual foi o botão de Murphy. Houve trabalhos experimentais anteriores de autoria de Denans (1826), Henroz (1826), Bonnier (1869), Senn e Abbe (1889) relativas à sutura automática circular.

A partir de 1920 a sutura automática linear teve grande desenvolvimento graças aos contributos de F. Hahn (sutura com fio) e fundamentalmente de H. Hultl que foi o autor das bases da sutura automática com agrafos. Aladar von Petz introduz os agrafos de prata e a dupla fiada de agrafos em fiada indiana. Era um aparelho menos pesado que teve larga aceitação cirúrgica. Um importante contributo foi a adaptação de carregadores amovíveis (H. von Seeman e Friedrich, 1934). De salientar os trabalhos desenvolvidos pelo Instituto Experimental de Pesquisas Científicas de Moscovo e da United States Surgical Corporation nos E.U.A..

Em Portugal a Escola Médica do Porto prossegue as investigações neste domínio como é prova a tese de Doutoramento aí defendida pelo Professor Doutor Araújo Pimenta (1984).

botão de Murphy
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Botão de Murphy: Aço niquelado; séc.XX; 2,1x2,3x2,3cm
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